Como segurança virou tema central em eleição no Chile

 

Ótima pergunta. Vários fatores explicam por que a segurança virou um tema central nas eleições chilenas atualmente. Aqui estão os principais pontos — e por que isso importa politicamente:

Principais motivos para a segurança ganhar destaque

Aumento da criminalidade “atípica”

Embora o Chile ainda tenha uma taxa de homicídios relativamente baixa (cerca de 6 por 100 mil em 2023) 

Crimes como sequestro, extorsão, assassinatos por contrato e roubos ligados ao crime organizado transnacional. 


Esses tipos de crime geram mais medo porque parecem menos “acidentes” ou brigas pontuais — são delitos organizados, e isso mexe com a percepção de controle social.

Percepção de insegurança elevada

Segundo dados da Fundação Paz Ciudadana, muitas pessoas acham que a segurança pública está piorando. 

Essa sensação de insegurança tem consequências reais: mais gente procura empresas de segurança privada. Nos últimos anos, o setor privado de segurança cresceu ~350% no Chile, segundo a Câmara Nacional de Comércio (CNC). 


Há também a crise de confiança no Estado para prover segurança: parte das pessoas acha que o Estado não dá conta, por isso recorrem à segurança privada. 
Mudança no perfil das políticas públicas

O governo de Gabriel Boric criou um Ministério da Segurança e aprovou uma nova lei antiterrorismo para combater crime organizado. 

Também foram criadas unidades especializadas: brigadas contra narcotráfico, sequestro, etc. 

Esses anúncios mostram que a segurança deixou de ser um tema secundário para virar uma prioridade governamental — o que também legitima que candidatos façam promessas fortes nessa área.

Aposta eleitoral de candidatos

Candidatos de diferentes espectros (como Jeannette Jara à esquerda e José Antonio Kast à direita) estão reforçando propostas ligadas à segurança. 

Por exemplo, Kast fala em “recuperar a ordem, a autoridade do Estado” 

LAinha-dura que pode atrair eleitores preocupados com crime e “caos social”.

Jara, por outro lado, defende fortalecer tanto a polícia quanto as prisões, mas também investimento comunitário, o que mostra que mesmo na esquerda segurança ganhou peso — não é só “lei e ordem”, mas também prevenção e presença estatal.

Medo social e impacto simbólico

Em muitos casos, o medo tem impacto maior do que os números reais de crime. Segundo analistas, existe um fenômeno de “insegurança percebida”: mesmo que a criminalidade não seja tão alta quanto em outros países latino-americanos, o tipo de crime novo ou violento assusta mais. 

Esse medo se traduz em apoio a políticas mais duras ou autoritárias: para muitos eleitores, garantir segurança se torna uma prioridade urgente.

Por que isso transforma a eleição

A centralidade da segurança redefine os eixos tradicionais do debate político no Chile: não é mais só economia, desigualdade ou direitos sociais — a ordem pública virou parte vital da disputa.

Isso favorece candidatos que propõem políticas mais rígidas de combate ao crime, o que pode levar a uma “direitização” pragmática ou autoritária em certos temas, mesmo em um país que historicamente tinha uma imagem mais segura.

A questão da migração também aparece misturada a esse debate: em alguns discursos, a insegurança está associada à imigração, o que reforça narrativas de “ameaça externa” ou “invasão criminal”. 

Se muitos eleitores responderem a esse tema no voto, pode haver impacto real nas políticas de segurança nos próximos anos — não só no discurso, mas em reformas institucionais (polícia, prisões, legislação).

Riscos e desafios

Focar demais na repressão pode levar a violações de direitos civis ou a uma “militarização” da segurança, se não houver equilíbrio com medidas de prevenção e justiça social.

A receita de endurecimento penal nem sempre resolve a raiz do problema: crime organizado muitas vezes exige políticas complexas, que vão além de polícia e prisões.

Existe o perigo de que políticos explorem o medo para ganhar apoio, sem necessariamente apresentar soluções sustentáveis ou bem planejadas.

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